top of page

O Último Canto do Uirapuru no Sex Shop



Sempre que ouço as pessoas ao redor me questionarem sobre namoro ou algo dito "sério", fico extremamente incomodado.


Por que um relacionamento sério deve ser necessariamente monogâmico?


A simples ideia de um relacionamento fechado me revira o estômago, pois não acredito que somos naturalmente assim - isso é uma construção social - então como posso conceber a ideia de me manter com uma única parceira sexual ao longo da vida? Claro que existem algumas raras pessoas que conseguem de alguma forma, tenho teorias sobre isso embasadas empiricamente após anos de reflexão e autoconhecimento.


Posso citar como um dos exemplos de exceção à minha regra, (monogamia=utopia) casos onde a religiosidade está no meio, casais que são monogâmicos de forma “forçada”, pois acreditam que a traição é pecado, não digo que nunca trairão na calada da noite, mas resistirão e reprimirão seus ímpetos sexuais por mais tempo.


O segundo caso são as pessoas que são ou se consideram “assexuadas”, onde por questões hormonais, barreiras psicológicas, traumas e uma série de outros fatores que culminam na extinção da libido e/ou desejo de se manter sexualmente ativo, o sexo no caso é como uma obrigação e é minimizado por esses indivíduos, portanto a manutenção da monogamia se torna extremamente viável, pois outras cousas são levadas em consideração para se manter anos com a mesma pessoa.


"É mais ou menos como uma pessoa dizer que nunca sente apetite por comida", disse , psicólogo e diretor do Centro de Saúde Sexual e Medicina na , em Baltimore. "O sexo é um instinto natural, tão natural quanto o de buscar nutrição e água para sobreviver."


Vejamos que o assexualismo se distingue do celibato, que implica em decisão consciente de sufocar os desejos sexuais. A pessoa pode se masturbar e sentir desejos sexuais, mas por algum motivo não possui vontade em interagir sexualmente com outras pessoas.Por último em minha leitura sobre como a utopia monogâmica pode se manter ativa, relembro daqueles relacionamentos típicos do interior, que podem existir em grandes metrópoles também, onde a pessoa conhece o futuro namorado na escola com treze anos, transa pela primeira vez e se mantém dez, quinze anos com aquela pessoa.


Não existe parâmetro para comparação, se você só conhece uma rola/boceta, é muito mais fácil se fechar nessa relação e evitar categoricamente qualquer contato com outra pessoa.Podemos associar tudo isso àquela afirmação típica de algum defensor da mono:


“Poxa, conheço um casal monogâmico que se dá super bem, estão há dez anos juntos”


Ora, é só voltar cronologicamente no tempo e descobrir principalmente que esse casal provavelmente começou a namorar com treze anos, depois de dez anos de relação eles estão com vinte e três anos, no auge da juventude e anteriormente não haviam vislumbrado as possibilidades infinitas que o mundo possui, geralmente nesses casos, o casal não aguenta o tranco de uma faculdade, uma viagem para o exterior, uma oportunidade de trabalho em outra cidade, ou qualquer outro fator que “abra” o mundo de um ou de outro.


Essa expansão mental, de vivência, conhecer culturas novas e estar em contato com a vastidão do mundo, geralmente acarreta no término dessa longa relação monogâmica.


Vejam mais uma vez que estou me baseando em minha próprias análises, ciente que existem exceções e que para cada caso deve-se ter diversos outros exemplos contrários, mas o que quero mostrar é como eu geralmente “filtro” as informações quando ouço alguém dizer que é monogâmico e está muito feliz.


Quando eu cutuco, conheço e convivo, sinto o cheiro da mentira, da típica família , onde a mulher trepa com o Personal Trainer, o esposo come a secretária, mas todos os dias pela manhã, eles tomam café e brincam com seus filhos e labradores de penugem macia.


Faço uma indagação para você, meu caro leitor, olhe a sua volta e faça esses “filtros” que citei acima, aposto que noventa por cento das pessoas à sua volta que se dizem monogâmicas estão dentro desses parâmetros.


E o porquê disso? Simples resposta! A monogamia não é natural, mas uma construção social utilizada para fins civilizatórios, algo para reprimir nossos instintos e nos fazer viver mais “seguros” em sociedade, o grande problema é o mal estar que isso gera, como já descrevia em sua obra


"Uma satisfação irrestrita de todas as necessidades apresenta-se como o método mais tentador de conduzir nossas vidas;isso, porém, significa colocar o gozo antes da cautela, acarretando logo o seu próprio castigo."


Achar que isso não terá consequências psicológicas e diversos transtornos associados a tudo isso é balela. Se vivermos controlando nossos impulsos para transar com uma única pessoa, uma hora ou outra isso irá explodir como um barril de pólvora aceso.


Vejamos quantas vezes em tentativas de monogamia temporária, transamos diversas vezes com a pessoa até “enjoar” e a única forma de continuar é com mecanismos, subterfúgios esses que chamo de “Último canto do Uirapuru”, pássaro brasileiro famoso por sua doce cantoria.


Geralmente se desenrola quando o desespero ronda o casal, percebendo que sem a vontade e a excitação inicial da relação tudo poderá sucumbir, ai então eles na maioria das vezes apelam para o “Último canto do Uirapuru”, ou seja, a última tentativa de salvar uma relação que já é natimorta.


Como em um episódio do onde os personagens caem na areia movediça .


Nesse caso o "cipó" para se agarrar está na mão de alguém bem próximo, alguém que se popularizou, alguém que está em todos os bairros, on line, vinte e quatro horas e de fácil acesso.


Esse alguém atende pelo nome de “Sexo Shop”. A última tentativa de salvação, de respiro está muitas vezes na ida do casal após uma frase mais clichê impossível utilizada geralmente pela mulher, pois o jamais vai sugerir:



“Vamos tentar algo diferente para esquentar a relação? Vamos no Sexo Shop, benhê!”


Isso soa nos ouvidos como uma pimenta para esse marasmo sem fim de sexo burocrático e imaginação fértil, onde o mecanismo do sexo só ocorre imaginando o ator da novela ou a menina do escritório.


Raciocinando friamente, é crível achar que o cara quer ver a companheira vestida de enfermeira? Ele quer comer uma enfermeira! A mulher quer ver o marido, pançudinho, já dando mostras do desleixo típico de casais de muito tempo, mostrando suas saliências com um uniforme de bombeiro? Ela quer imaginar que está realmente dando para um bombeiro viril.


E o pau negro? Não preciso nem dizer quando sua cônjuge sugerir um consolo dessa etnia.


Essa projeção é muito comum e causa essa sensação de “apimentar” o sexo, o que nada mais é do que um contorno de certa forma careta em uma situação que poderia facilmente ser resolvida se simplesmente as pessoas não se privassem de transar com outras, não acreditassem que quando isso acontece, estão sendo “trocadas”, ora, partindo do pressuposto que alguém te trocou por outra pessoa, o que garante que numa relação aberta isso será mais corriqueiro?


Ou alguém ai já viu casos usuais de pessoas em relacionamento aberto fugindo com a amante ou tendo duas famílias, enganando a esposa e filhos?


Claro que não! Quando não se reprime, você não se limita e passa a compreender que uma relação é sólida e completa quando envolvem "n" fatores que não só o sexo, companheirismo, cumplicidade e a expansão mental de um casal que resolve viver uma relação aberta, algo construído de forma tão visceral e verdadeira que, meu caro leitor, você irá medir e pensar duas, três ou quatro vezes antes de abandonar tudo por uma transa e/ou uma pessoa.


Mas não estou dizendo que não pode ocorrer, claro que pode, se houver um envolvimento amoroso além do sexual, isso é o que chamam hoje de “poliamor”, um termo novo para algo simples e humano que ocorre desde sempre e os hippies já propagavam isso há muito tempo, a ideia mais velha que andar pra trás que você pode SIM amar várias pessoas ao mesmo tempo, óbvio!


Ou você não ama seu pai, sua mãe, sua irmã, seu cachorro? Você ama todos incondicionalmente, mas de formas distintas, exatamente isso pode e deve acontecer com pessoas, nós somos passíveis de amar aspectos de várias pessoas e não querer “largar” ou “optar” por uma ou outra.


Quem nunca passou por aquela situação de conhecer duas pessoas que seriam “perfeitas” se juntassem suas qualidades em uma só?


Aposto que todo mundo já viveu isso em algum momento da vida, mas como somos condicionados a sempre ter que escolher apenas um(a) acabamos sofrendo na hora da decisão ou caindo na hipocrisia de continuar com ambos(as) sem mencionar para as pessoas envolvidas essa egoísta escolha.


A insegurança que eventualmente poderá existir deve ser suprimida e o ciúme subjugado. Claro que é difícil se desconstruir, mas até um tempo atrás era difícil usar o banheiro no sul dos Estados Unidos se você fosse negro.


Tudo é desconstrução e precisamos acabar com esse medo de rejeição, essa insegurança absurda que assola essa sociedade contemporânea com remédios e mais remédios, tudo é ser aceito, ser amado, ser feliz...


Temos momentos de aceitações e rejeições, bem como momentos felizes e tristes.A existência é isso ai.






 POSTS recentes: 
bottom of page