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SPOILERS MALDITOS

Posso me recordar claramente do meu primeiro Spoiler. Desde muito cedo me interesso por assuntos que talvez não sejam muito populares, devido a grande influência de minha mãe e tias/tio. Sempre apreciei ler e me recordo de ser cobrado pela leitura de clássicos por parte de minha tia Marta desde tenra idade.


Ela sempre dizia (eu com doze anos) “Leia os clássicos enquanto você é jovem, depois você não lerá mais, ficará com preguiça”, eu me sentia envergonhado de não ter lido “Memórias Póstumas”, o escritor argelino Albert Camus, ou até mesmo o menos conhecido Guy De Maupassant. Na voracidade de comentar e participar das conversas na mesa sem que a mesma “caia” me fazia realmente devorar todos esses livros.


Obviamente que gostei de alguns, desgostei de outros, mas sempre mantive minha assiduidade na leitura. Uma das leituras mais impactantes e que faz jus ao título desse texto é “O Caso dos Dez Negrinhos” ou depois renomeado como “O Caso dos Dez” da grande romancista policial inglesa Agatha Christie.


Estava realmente lendo depois da dica de minha tia e estava louco, doente sem parar de ler, pois a história me fazia viajar e querer chegar ao final, aliás o final de uma história boa é muito particular, cada um lida de uma forma com isso, talvez existam doudos que apreciam um Spoiler, ou não tenham sua experiência abalada com isso. No meu caso, sempre gostei de guardar o final de livros, filmes e séries para degustar com tranquilidade sem interrupções e de preferência num ambiente aprazível. Nessa época o melhor ambiente seria o silêncio de uma sala de estar que eu mantinha como meu reduto particular, ouvia e lia letras de clássicos do rock nele e também utiliza o recinto para o momento derradeiro de meus livros prediletos.


Eu tinha mais ou menos uns oito, nove anos e estava no último capítulo dessa história em particular e para quem é leitor de Agatha Christie, sabe muito bem que é quase impossível descobrir o assassino antes do último capítulo, é absurdo como ela consegue prendar os leitores até o desfecho, até a penúltima página você ainda está em dúvida!


Estava absorto nessa história na inóspita ilha, aliás, “inóspita” foi uma das palavras mais legais que aprendi lendo Agatha Christie...Mas vamos retornar ao foco principal desse texto.Deixei“O Caso dos Dez Negrinhos” com a marcação em cima da mesa da sala de estar, uma mesa de canto, onde ninguém deveria "abelhudar", mas claro que espíritos de porcos existem e meus dois primos que sempre frequentaram minha casa aos domingos, viram o livro exposto e infelizmente já haviam lido na escola (escola de burguês).


Assim o assunto passou a ser o livro que estava lendo e eu me torturando querendo mudar de assunto, pois já previa o pior de todos os males, o maior temor de minha existência, algo que me faz correr, tapar os ouvidos e gritar! Acreditava piamente na bondade humana naqueles tempos e não achava que sofreria algo desse tipo e que posteriormente teria uma denominação popular, assim como o "Bullyng", e outras cousas que ocorriam antigamente mas não possuíam palavras para definí-las.


Não contente em comentar sobre minha leitura, um dos primos de nome russo e que tinha minha idade, lança-me sorrateiramente no meio do papo:


“ O assassino é...”


Esse sobrenome do assassino ecoa em meus ouvidos até hoje e me faz lembrar com tristeza como passei o resto dos dias adiando o inevitável e querendo enganar-me sobre o final daquele belíssimo livro! Claro que não serei deselegante aqui nesse texto, mas ele me disse o SOBRENOME do assassino.


No auge de minha cólera, mudei de assunto, tentei retornar no dia seguinte a leitura, mas aquele nome não saía de meu cérebro, condicionei-o a repetir o mantra: “ ele estava brincando, ele estava brincando...”


Não queria acreditar que o assassino era aquele mesmo.Infelizmente sofri meu primeiro Spoiler aos oito anos e passei a odiar todos que pertencem a essa casta que denomino de Spoilers malditos por natureza!





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